10 de julho de 2007

Fábula


O GATO VELHO E A RATA NOVINHA


Uma ratinha ingênua e inexperiente, ao sair da sua toca teve a infelicidade de cair nas garras de um velho gato sabido. Mas, julgando que podia enternecê-lo, com sua vozinha flébil e mimosa implora clemência.

_ Deixa-me viver; será acaso pesada a carga para esta despensa um ratinha tão insignificante como eu, que tão pouco se alimenta? Vê, um simples grão de trigo é bastante para meu estômago e uma pequenina noz já me engorda; achas que com isso matarei de fome o dono, a dona e demais gente dessa casa? Não creio! Deixa-me viver mais algum tempo, agora estou muito magra ainda, mas quando crescer e ficar mais gordinha, terás em mim um delicioso petisco para teus senhores filhos; reservai pois esta regalia!

Esta e outras coisas dizia a pobre ratinha, pensando comover o velho gatão; mas este respondeu:

_ Não há dúvida que te enganaste. Justamente a mim é que se dizem tais coisas? É o mesmo que falar a um surdo! Gato e velho, perdoar alguém! Isto jamais aconteceu. De acordo com a lei em vigor neste mundo, vais morrer e passar para meu bucho; vai discursar lá dentro, que não te faltará ensejo. Quanto aos meus filhos, não terão dificuldade em encontrar outros manjares por aí, não lhes falta estofo. _ Assim dizendo, abocanhou a ingênua tragando-a de uma só vez.

Eis o sentido moral conveniente a esta fábula:

“A mocidade ilude-se que pode conseguir tudo, pois não se dá conta que a velhice é implacável”.

La Fontaine


O GATO VELHO E A RATA NOVINHA

Uma rata novinha e inexp’riente,
Tentando enternecer um velho gato:

“Não me comas, dizia; sê clemente!...
Pequena sou, a fome não te mato!
Espera uns meses mais; bela pitança
Em mim terão teus filhos!

_ Perdoar,
Um gato, e gato velho? Louca esp’rança!
Não te deixo aos filhos meus um tal manjar!”

Tudo julga alcançar a mocidade,
E é cruel a velhice, na verdade!

Alberto França


2 comentários:

A humanidade é um oceano. Se algumas gotas estão sujas, isso não significa que ele todo ficará sujo. (Mahatma Gandhi)