31 de outubro de 2007

Frida Kahlo

FUGINDO DA ROTINA
Pessoas e PESSOAS
Às vezes nos deparamos com pessoas que até parecem que são perseguidas pela sorte. Tudo o que há de ruim e catastrófico acontece para elas: perdas familiares, doenças graves, acidentes pessoais...
Observamos que algumas vivem como derrotadas, são tristes, pessimistas e depressivas. Vivem desanimadas, procuram ocupar-se o mínimo possível, consideram-se inúteis e são comodistas ao extremo, esperam que tudo aconteça por mãos alheias, através da bondade de alguém. Perguntam a si próprias: “Por que sofro tanto?” Essas pessoas nunca se movem pois aguardam a sorte. Não fazem nada por si mesmas.
Em contraposição, outras não se deixam abater. Lutam contra qualquer adversidade. Conseguem superar grandes tragédias, abraçam grandes causas em benefício da humanidade. Quando analisamos, descobrimos que estas pessoas se destacam das demais e são vitoriosas porque estão alicerçadas na fé, no esforço pessoal, no pensamento positivo e, principalmente, no desejo de superação e na alegria de viver. De suas vidas podemos tirar grandes lições.
Dentre estas pessoas, merece um destaque especial Frida Kahlo, pintora mexicana (1913-1957). Teve tudo que precisava para ser uma derrota, mas não se deixou abater. Sua vida pode ser comparada a um martírio. Doente e com problema físico, Enfrentou também outras controvérsias, ainda assim procurou ser útil à sociedade e a si própria.
Leia sua biografia e veja que exemplo de garra e determinação.
Terezinha Bordignon
FRIDA KAHLO
Em 6 de julho de 1913, em Coyoacán, México, após violenta guerra civil, nasceu Magdalena Carmen Frida Kahlo e Calderón. A terceira de quatro filhas do casal Matilde Calderón e Guillermo Kahlo, pintor e fotógrafo oficial do Governo.
Moderna para seu tempo e até para os tempos atuais. De incrível criatividade, recebeu de biógrafos inúmeros adjetivos: feminista, ativista, mexicanista, surrealista, pioneira...
Aos 6 anos teve poliomielite o que provocou o emagrecimento de sua perna direita. As crianças zombavam dela. Para superar o sofrimento, circulava pelas ruas e jardins fazendo verdadeiras acrobacias em bicicletas e patins. Quando jovem tentava esconder as seqüelas debaixo das calças masculinas, usando duas ou três meias para engrossar a parte mais fina. Ficou coxa. Chegou a usar roupas de homem. Mais tarde disfarçou usando compridas saias mexicanas. Mas era bonita e delicada.

Teve várias ligações amorosas e rompimentos; vivenciou traições; buscou amores; entregou-se à Arte; identificou-se com marginalizados e com o dramas humanos; viveu constantemente rodeada de pessoas, foi narcisista...
Em 1922 iniciou Medicina, mas não pode terminar o curso. Entre 1922 e 1925 assiste aulas de desenho e modelado. Conhece Diego Rivera.
Em 1924 2 1925 tem aulas de desenho e cobiça a caixa de tintas do pai.
Em 1925 aprende a técnica da gravura; No mesmo ano, com apenas 20 anos sofreu um grave acidente com muitas lesões que causaram dores e problemas por toda sua vida. Uma batida com um bonde. Tem o corpo atravessado pelo corrimão. O ferro entrou na região pélvica e saiu pelas costas, atravessando a coluna vertebral. Passa um mês no hospital e três meses na cama.
No ano de 1926 os médicos detectaram uma vértebra quebrada o que exigiu o uso de colete durante nove meses. Durante a convalescença recebe de presente a cobiçada caixa de tintas do pai. Começa a pintar deitada na sua cama, através de um cavalete. Tinha um espelho perto e assim começou a pintar auto-retratos.
Em 1928, Frida, com 21 anos, ingressa no Partido Comunista Mexicano. É ativista. Reencontra Diego Rivera, mexicano, com 24 anos, pintor muralista que estudou na Europa.
Rivera conheceu o cubismo em Paris. Estudou Goya e El Greco. Na Itália conheceu os afrescos de Giotto. Estudou pintura no México. Era alto, gordo e feio, mas inteligente. Com 42 anos era o dirigente do Partido Comunista e foi apresentado a Frida por Tina Modotti, fotógrafa americana ativista do partido. Rivera viu os quadros de Frida, ficou impressionado e afirmou que ela tinha uma personalidade artística própria. Estimulou Frida a continuar pintando.
Apaixonam-se e se casam em agosto de 1929.
Em 1930, ocorre o primeiro aborto espontâneo de Frida. Seu desejo de ser mãe nunca será realizado. Em novembro desse ano partem para os Estados Unidos, onde Diego realizará algumas obras.
Entre 1931 e 1934 passa a maior parte do tempo em Nova Iorque e Detroit com o marido. Conhece Dr. Leon Eloesser, que diagnostica escoliose e achatamento de disco de sua coluna. Nesse período aumentam as dores, assim como a deformidade da perna direita.
Sofre intensamente devido a uma ferida que tem no pé, suspeita de sífilis.
No ano seguinte, 1932, ocorre seu segundo aborto. Poucos meses depois morre sua mãe.
Em 1934 tem uma terceira gravidez, seguida de novo aborto e a realização de cirurgia para amputação de vários dedos de seu pé direito e ainda a descoberta do romance vivido por Diego com Cristina, irmã mais nova.
Magoada, separa-se de Diego e tem um caso de amor com o escultor Isamu Noguchi.
Em fins de 1935, início de 1936, volta para o México, reconcilia-se com Diego, após o término do romance com a irmã Cristina. Submete-se a nova operação no pé direito.


Em 1936 pinta “Mis abuelos, mis padres y yo”. Dispõe os rostos dos avós maternos sobre uma paisagem montanhosa e dos paternos flutuando sobre o oceano.
Entre 1937 e 1939 vive um romance em sua casa de Coyoacán com Leon Trotski, a quem presenteia com o “Autorretrato”. Frida e Diego divorciam-se em 1939. No mesmo ano expõe em Paris.
Vivendo um período de crise depressiva, Frida passa a alcoolizar-se com freqüência, mas pinta em 1939 “Lãs dos Fridas”, uma das suas telas mais famosas, exposta em 1940 na “Exposição Internacional do Surrealismo”. Retrata as emoções envolvidas na crise e na separação. As duas Fridas se encontram sentadas de mãos dadas; uma delas veste uma roupa tipicamente mexicana, a outra usa vestido branco, de estilo vitoriano. As suas mãos se tocam, mas a verdadeira ligação entre ambas é a artéria que as une, saindo de um coração da Frida mexicana e correndo em direção ao coração da européia. Uma artéria desce do coração da Frida vestida de branco e seu sangue goteja na roupa. O conjunto mostra as duas sociedades distintas; o México que está representado com a fonte da vida e a Europa puritana que se esvai em sangue. A sexualidade de Frida mexicana está bem enfatizada pelas suas pernas mais abertas.

Nessa mesma época pinta o “Autorretrato com collar de espinas y colibri”. Além dos problemas com a perna e com a coluna, Frida tem uma infecção de fungos na mão direita. O símbolo cristão do sofrimento continua na coroa de espinhos.
Em 1940 sofre freqüentes crises depressivas, dores, um novo tratamento em São Francisco mas, traz o reconhecimento público e o segundo casamento com Diego Rivera.
Após a morte do pai, em 1941, passa a morar na casa da família.
Em 1942, início de seu “Diário”, seu estado de saúde piora e ela passa a dar aulas em casa. Segue pintando retratos que lhe são encomendados, dentre eles: “Diego em mi pensamiento” e “Pensando em la Muerte”.
A partir de 1943 dá aulas na escola La Esmeralda.
Em 1944 pintou “La columna rota”. Quando sua coluna se agravara muito e precisou usar um colete de aço. Esse quadro é um grito de dor. Uma coluna jônica, fraturada em vários pontos, substitui sua própria coluna dorsal fraturada e nos fala da dor. A rachadura e as profundas gretas na árida paisagem compõem o cenário interno/externo dessa dor. Os cravos espalhados pelo rosto e pelo corpo lembram o martírio de São Sebastião. Lágrimas vertem do rosto que sofre, mas mantém o corpo rigidamente ereto.

Em 1945 dá aulas, em casa; É desse ano o quadro “La máscara”.
Em 1946 vê com esperança a possibilidade de uma viagem a New York para um enxerto ósseo na coluna. Pinta “La venadita” ou “El venado Herido”, onde representa-se com o corpo de um jovem veado e com sua cabeça coroada com uma enorme galhada.


Após a operação, pinta “Arbol de la esperanza mantente firme”. Os corpos contrastam profundamente entre si: um enfraquecido, violado, mutilado, sangrando, as feridas do corpo misturando-se às fendas da paisagem, o olhar dirigido para o abismo; o outro, altivo, vigoroso, ereto, olhando para o futuro. Novamente a dualidade presente nas duas protagonistas e também no dia e na noite. Ao sol é atribuído o corpo ferido, à lua a mulher altiva.
Do mesmo ano é outra obra, um desenho, em que ela se retrata mais uma vez, com o brinco dado por Picasso, um colibri incorporado ao seu rosto e, mais uma vez, com lágrima nos olhos.
Em 1947 sofre mais um aborto, mais uma frustração.


No ano seguinte reingressa no Partido Comunista Mexicano. Nesse período passa a centuar traços masculinos em si mesma, como o buço claramente delineado em “Autorretrato com medallon”.

Em 1949 cria o quadro “El abrazo de amor de El Universo, la tierra”.
O ano de 1950 e parte de 1951 são de sofrimento. Passa nove meses no hospital com sucessivas infecções, submetendo-se a sete cirurgias. Usa sucessivos coletes de gesso, que pinta com vários motivos e cores. Pinta outras obras, um quadro sobre sua família que nunca terminará. Recebe alta, mas passa utilizar cadeiras-de-rodas.

Toma regularmente comprimidos para amenizar as fortes dores e cria dependência química. Produz várias naturezas mortas e um auto-retrato “Autorretrato com el Dr. Juan Farril”, pintado com seu próprio sangue, tendo o coração como palheta.

Nesse ano de 1951 faz um desenho “Ala rotas”, é um anjo em chamas, no qual retrata a si mesma parada no meio de uma fogueira. As chamas a envolvem e chegam até suas asas.
Em 1952 engaja-se em movimento pela paz.
Em abril de 1953 tem sua primeira exposição individual no México. Muito fragilizada, comparece deitada em sua cama. Segue fazendo naturezas mortas, acrescentando-lhes mensagens afixadas em bandeirolas ou “talhadas” nas próprias frutas.
Em 27 de julho de 1953, com 46 anos teve complicações circulatórias. Amputam sua perna direita até a altura do joelho. Em seu diário, encontra-se o desenho da perna amputada com uma coluna rodeada de espinhos com a legenda:
“Pies para qué los quiero
Si tengo alas pa´volar.”
Em fevereiro de 1954 escreve no diário:
“Amputaram-me a perna há seis meses, deram-me séculos de tortura e há momentos em quase perco a razão. Continua a querer me matar (...) nunca sofri tanto em toda minha vida. Vou esperar mais um pouco...
Em abril de 1954 é internada, provavelmente por tentativa de suicídio, mas seu fervor político é tal que convalescendo de uma pneumonia, onze dias antes de sua morte, sai às ruas, na cadeira-de-rodas, empunhando cartazes em manifestação de protesto pela intervenção norte-americana na Guatemala.
Ao que tudo indica, seu último quadro é “Viva la vida”: rubras melancias e a mensagem de vida talhada em uma de sua fatias.
O último desenho no diário é um anjo negro acompanhado da seguinte frase: “Espero alegre la salida Y espero no volver jamás.”
Em 13 de julho de 1954, aos 47 anos, adoeceu de pneumonia e morreu de embolia pulmonar. Seu corpo foi cremado. No seu diário a última frase causou muitas dúvidas: “Aguardo contente a saída e espero nunca mais voltar”.
Rivera morre três anos depois, em 24 de novembro de 1957.
Quatro anos após sua morte, sua casa familiar transforma-se no Museu Frida Kahlo.
Pesquisadores mexicanos descobriram que Frida Kahlo poderia ter sido envenenada por uma das amantes de Diego Rivera. Diego teria mandado uma de sua amantes colocar veneno de rato na comida de Frida. Essas pesquisas foram feitas com base na autópsia de Frida Kahlo.
A pintura de Frida Kahlo retrata a dor da solidão, o sangue de seu monólogo interior, sua força biológica, sua sensualidade, sua sensibilidade finíssima, sua inteligência explendorosa.
Seus quadros têm o fantástico, que muitos procuram enquadrar como surrealista, o que é um erro. Enquanto os surrealistas pintavam o subconsciente, o escondido, o sonho, o irreal, Frida pinta as emoções que passou em sua vida. A doença sempre esteve presente em sua obra. O fantástico em Frida é o real, o consciente. A sua pintura é única, é quase uma biografia de paixão e dor. Frida impressiona! A sua frágil figura contrasta com a força de sua procura por liberdade. A sua fraqueza física não a impediu de lutar contra a doença dos povos, a opressão dos mais fracos. Kahlo é considerada ainda hoje a mais importante artista latino-americana, seus quadros são vendidos por milhões de dólares.
Bibliografia
Wikipédia, a enciclopédia livre
FRIDA KAHLO: PERSONAGEM DE SI MESMA
Por Lígia Assumpção Amaral
Instituto de Psicologia/USP
SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
a) Imprimir o texto (quantidade para trabalhar em grupo)
b) Leitura do texto em grupo.
c) Dar algum tempo para que os alunos comentem entre si sobre a biografia de Frida e discutsam sobre as pinturas
d) Troca de idéias
e) Produção de textos: Cada aluno escreve sua auto-biografia
f) Expressão artística: (Fazendo o uso de espelho), cada aluno desenha seu auto-retrato numa folha de cartolina tamanho A4. Colorir com lápis de cor.
g) Exposição coletiva dos textos e dos auto-retratos dos alunos.

3 comentários:

  1. Uau! Que aula! Obrigad apor me proporcionar uma coisa que vinha imaginando fazer há algum tempo: ler sobre Frida Kahlo.
    Gostaria de dizer também sobre as pessoas que vencem dificuldades: eu tenho uma vida tranquila nesses aspecto e ainda assim me aprecem montes de dificuldades pra vencer. A força que brota em algumas pessoas é algo absurdamente inexplicável; isso é o que chamo de Deus. Essa força sem explicação e que nos move em direção à vida.
    Parabéns pelo texto! Acrescentou muita coisa boa à minha vida.
    BEijos.

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  2. Parabéns pela excelente aula sobre a também excelente Frida Kahlo.

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  3. Há duas ou tres semanas venho pensado intensamente em Frida rsrsr é até estranho falar isso...Desde q foi feito o filme falando sobre ela [acredito q foi em 2002] sempre tem uma voz me falando pra eu conhecer essa mulher...Estranho, né? rsrs Aluguei o filme hj e antes de assitir quis dá uma pesquisada e encontrei essa maravilhosa aula falando sobre essa GRANDE mulher.
    -
    Obrigado! ;)

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A humanidade é um oceano. Se algumas gotas estão sujas, isso não significa que ele todo ficará sujo. (Mahatma Gandhi)