22 de novembro de 2007

Joio e trigo


Final de ano. Faxina geral. Recordei-me da famosa frase: "Sim, eu empresto."

Quem nunca pronunciou esta frase? Provavelmente todas as pessoas já emprestaram livros, roupas, revistas, ou dinheiro, certas de que estavam fazendo uma boa ação e que o objeto seria devolvido, Muitas vezes isto não acontece. A devolução imediata é rara. Há pessoas que fazem empréstimos e se esquecem de que é preciso fazer a devolução.

Quem nunca perdeu livros por emprestá-los a alguém? Na confiança, não anotou quem os levou. O tempo passou e ficou a dúvida: Quem me pediu emprestado? Eu não marquei! Há a famosa “dor de cabeça”. O empréstimo é um risco. É como assinar um cheque em branco. Quem empresta algo precisa anotar “quando, o quê e para quem”.

Após um empréstimo pode surgir uma inimizade. Há pessoas que não gostam de ser cobradas. Geralmente são as que têm o hábito da procrastinação: “Eu ia devolver, não precisava me cobrar”, ou “Amanhã eu levo à sua casa, eu até deixei separado.” E nada de devolução. Este “amanhã” nunca chega.

Existem aquelas que, depois de muito tempo, batem à nossa porta com o objeto quebrado, amassado ou sujo. Pedem desculpa e solicitam mais um empréstimo. Também as que mudam de endereço e, adeus... Há as que passam adiante o que é nosso. O objeto desaparece e cobrar de quem?

Não são raras as pessoas que não fazem empréstimos. Estão cansadas de ser enganadas. Preferem mentir: “Eu não tenho, já está emprestado, emprestei não sei pra quem, joguei, não sei onde está,” e uma infinidade de outras desculpas. Isto é uma fuga para não dizer um NÃO. Quando não há saída, é melhor despedir-se do objeto que será emprestado, fazer de conta que acredita na devolução e aceitar a idéia do empréstimo como uma doação.

Radicalizar não é a solução, cautela sim. Um dito popular afirma: “O bom não tem estrela na testa”. Na parábola do “joio e do trigo” eles crescem juntos, até que depois de grandes o joio é separado. Quem não faz devoluções é como o joio, pode ser eliminado da lista de empréstimos.

É difícil acreditar que o objeto emprestado não seja visto de vez em quando na casa de quem o levou. Acredito mais num comodismo, numa falta de ação e de compromisso consigo mesmo e com o outro: “Se eu fosse o dono, gostaria que fizessem isso comigo? Tomei emprestado, vou devolver: Vou ser trigo, não aceito ser joio”.

É preciso fazer um parêntese para os distraídos e para os impossibilitados, por razões justificáveis, ninguém está livre destas situações inconvenientes. A estes devemos aceitar as desculpas, afinal a intolerância não fica bem em pessoa alguma.

Louvores aos que são como o trigo, porque honram sua palavra.

Louvores aos que são como o joio, porque nos obrigam sair do egocentrismo, e, se não fossem eles esta crônica não teria sentido.

Terezinha Bordignon


Um comentário:

  1. É verdade. Tudo isso se aplica ainda com mais intensidade quando se trata de empréstimo de dinheiro. Já ví famílias que se dividiram por conta em um "favor" numa hora hora difícil, por causa de uma "assinadinha" como avalista ou fiador, que acabou num desfalque, uma vez que este avalista ou fiador teve de assumir a conta daquele favorecido. Nestas horas é melhor deixar que o amigo se aborreça do que ter que arcar com a conta do amigo no final.

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A humanidade é um oceano. Se algumas gotas estão sujas, isso não significa que ele todo ficará sujo. (Mahatma Gandhi)