22 de junho de 2008

Buffon e seu criado


Não estamos longe de uma mudança ortográfica, janeiro vem logo ai, mas vale a pena conhecer um texto anterior à atual ortografia e compará-lo à atual escrita.

O texto a seguir foi copiado de um livro antigo. Atualmente ele pertence a uma sobrinha que o guardou juntamente com outros pertences antigos da casa dos falecidos avós. Como não tem mais a capa, não se pode saber quem é o autor ou qual sua editora. O que minha sobrinha sabe é que pertenceu a um tio que o utilizou quando estudava a 3ª série do primário. Fazendo os cálculos da idade do tio, deduz-se que o livro foi publicado nos anos 20 do Século XX.

Não se assuste, o texto a seguir foi transcrito com a grafia da época, mas isso é bom, assim podemos ver as mudanças ocorridas na Língua Portuguesa daquela época até hoje. Isso prova que a língua é viva e quer queiramos ou não ela se transforma.

Outra curiosidade é que os autores dos textos não são citados nem nos textos e nem no índice, por isso texto abaixo não apresenta o autor.


BUFFON E SEU CRIADO

O grande sábio Buffon, naturalista francez, havia adquirido na sua mocidade o habito de levantar-se tarde e tinha o apego á cama. Vivia elle a lastimar o tempo precioso que perdia; mas, apesar dos seus propositos e esforços, não podia vencer tão nocivo costume.

Um dia, porêm, resolveu firmemente comsigo dominar aquella inveterada indolencia. Chamou José, seu criado de quarto, e prometeu dar-lhe uma libra esterlina de cada vez que elle tivesse artes de fazer erguer antes das seis horas.

Na manhã seguinte, José não faltou á hora aprazada no quarto do amo; este zangou-se muito, insultou-o e ameaçou-o; pelo que o criado receoso retirou-se deixando o amo em paz. “Hoje não ganhaste nada, meu José disse Buffon, quando o criado lhe trouxe o almoço e eu perdi o meu tempo. D’ora em deante não te importem os meus insultos nem as minhas ameaças, e trata de ganhar tua libra.”

No dia immediato, antes das seis horas, entrou o criado, resolvido desta vez a não ceder e levar a sua avante. Chega-se á cama do amo e intimida-o para que se levante; Buffon acorda, pede que o deixem, e, como José insistisse, encolerizou-se, ordena-lhe que saia, ameaçando-o de o despedir: em uma palavra, reproduz-se a scena do dia anterior. Desta vez, porêm, José na se deixa intimidar, puxa para baixo a roupa da cama, despeja um jarro d’agua fria sobre o amo e sae do quarto a toda pressa. Momentos depois ouviu tanger a campainha e foi logo á presença do amo. O criado tremia e Buffon com a maior tranquilidade disse-lhe: “D´-me roupa, e d’ora em deante não nos zanguemos mais um com o outro. Aqui tens a tua libra: hoje ganhaste-a bem.”

O que é certo é que nos dias seguintes José não precisou de recorrer a meios tão enérgicos para fazer com que o amo se levantasse; bastava chama-lo; e assim foi Buffon contraindo o habito de saír cedo da cama. O ilustre sábio aproveitou aquelas horas preciosas da manhã, até então perdidas, trabalhando com tal assiduidade e proveito, queaos seus titulos de naturalista soube ajuntar os não menos ilustres de literato. Freqüentemente repetia Buffon a historia do jarro d’gua e acrescentava a rir “Devo ao José tres ou quatro volumes da minha Historia Natural.”

ATIVIDADES:

1- Identificar palavras e expressões que sofreram mudança na ortografia.

2- Acentuar palavras não eram acentuadas, mas atualmente são ou que eram acentuadas mas sofreram mudança na acentuação.

3- Forme uma dupla, discuta com seu par e responda:

a- Qual o modo de pensar da época a respeito do tempo e do trabalho?

b- Atualmente, essa forma de pensar mudou? Explique.


Um comentário:

  1. Desde que vi seu blog pela primeira vez fiquei encantada com o conteúdo. Por isso, gostaria de oferecer um selinho para você. Veja aqui:

    http://cultoasartes.blogspot.com/2008/06/selo-esse-blog-vale-pena-ser-olhado.html

    Beijo! :)

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A humanidade é um oceano. Se algumas gotas estão sujas, isso não significa que ele todo ficará sujo. (Mahatma Gandhi)