As três pinturas a seguir foram feitas por três pintores brasileiros
contemporâneos. Elas foram produzidas em lugares distintos e têm diferenças e
semelhanças.
ALFREDO VOLPI nasceu na Itália em 1896 e veio para o Brasil com apenas um
ano. Faleceu em São Paulo
em 1988. Volpi pertenceu à segunda Geração Modernista. Sua primeira pintura foi
a fachada de um casario. Ocupa toda a tela. È uma pintura geométrica, na qual
Volpi utiliza poucas cores, mas fortes e
contrastantes e bem definidas.
ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD é natural do Rio de Janeiro. Nasceu em 1896 e
faleceu em Belo horizonte em minas gerais em 1962. Sua pintura tem características
expressionistas, usa a cor para gerar um estado de espírito no espectador.
HEITOR DOS PRAZERES viveu no Rio de Janeiro. Nasceu em 1898 e faleceu em
1966. Desde criança teve contato com as artes. Foi músico, compositor e pintor.
Perder o pai na infância foi um fator marcante em sua vida.
Alfredo Volpi
Nesta pintura de Volpi aparece apenas a fachada de um casario. A presença
das bandeirinhas coloridas remete a uma festa junina. Em sua pintura não há
pessoas. O fato de as portas e janelas estarem cerradas, supõe que as pessoas
se recolheram, apagaram a luzes e adormeceram. Isto está visível na parte superior
das portas. A cor preta sugere luz apagada. Há luz externa e escuridão interna.
Isso pode evidenciar um sentimento de angústia do pintor e despertar o mesmo
sentimento no espectador.
Alberto da Veiga Guignard
Esta pintura de Guignard mostra uma
pequena cidade no início do anoitecer. A noite, encontra resistência e não
consegue impor suas trevas: A cidade está em festa, totalmente iluminada. Nas
rua, as pessoas estão mergulhadas na luz. Esta luz está por toda a parte: ruas,
praças, calçadas, escadarias e até no interior dos casarios. Complementando a
claridade estão os balões no céu. Os telhados das casas ainda não foram
cobertos pela noite. As montanhas ao redor, lembram o período do ouro abundante
em Minas Gerais ,
Estado onde o pintor viveu. Não há preocupação em retratar as casas e as
pessoas de forma real. O importante é o estado de espírito que se quer passar e
o pintor conseguiu demonstrar um ambiente alegre.
Heitor dos Prazeres
A pintura de Heitor dos Prazeres,
feita em cores vibrantes, retrata uma cena, possivelmente urbana, parece se
tratar de uma ponte. O fundo mostra um céu nublado e no centro um balão
colorido. Não é possível ver mais nada, isso lembra um rio fundo, do contrário
seria visível. É como se a ponte estivesse subido ao céu, de encontro ao
balão. Ela está protegida lateralmente e
tem um espaço reservado ao pedestre. Sobre a ponte estão crianças brincando,
elas têm características afro. A pintura de Heitor dos Prazeres também não tem
preocupação com as formas reais. As crianças não são reais. As meninas vestem
roupas com modelos idênticos, divergindo apenas nas cores. Vestir roupas de
modelos únicos evidencia igualdade social. E é um costume que na África ainda
perdura. O pintor também retratou um período de festas juninas, isto a presença
do balão confirma. As crianças estão brincando. Além de pintor, Heitor era
músico. A forma como as crianças estão dispostas é a mesma de uma brincadeira de
cantiga de roda. É como se elas estivessem cantando a música “Cai cai balão”,
disputando quem consegue pegá-lo, pois elas estão com os braços estendidos em
sua direção. Heitor dos Prazeres retrata um ambiente festivo.
Comparando as
três pinturas, nota-se que existem
semelhanças e diferenças:
Guignard e Heitor dos Prazeres
retratam um momento festivo próprio do Brasil: O período das Festas Juninas. Na
pintura de ambos há denúncia social: a presença de pessoas simples, da classe
pobre. Eles mostram um cotidiano feliz, sem deixar de apresentar o que
aconteceu na História do Brasil: a escravidão, as minas de ouro de Minas
Gerais, as festas juninas herdadas dos portugueses, a religião católica. Na
cidade, todas as pessoas comemoram a festa, ninguém fica de fora. Quem não está
na rua, comera dentro de casa. As duas pinturas evidenciam sentimentos de
amizade, alegria, espontaneidade. Nelas há luzes, cores, contrastes e sugerem
ao espectador a presença de outros elementos como burburinhos, musicalidade.
Volpi também retratou o Brasil na
fachada do casario, residência com características colonial, habitada por
pessoas simples, do povo, enfeitada com bandeirolas coloridas, típicas das
festas juninas. Em sua pintura as portas das casas estão cerradas, como se a
festa tivesse acabado e as pessoas tivessem recolhidas em seus aposentos. Não
há luzes dentro das casa. Sobre cada porta há janelinhas pretas, como se ali um
vidro mostrasse que todas as pessoas
haviam apagado as luzes. Volpi delimitou a paisagem. O fundo é o próprio
casario. A cena de Volpi é quase estática, a não ser pelas bandeirolas que na
imaginação podem se movimentar. Fica a cargo do espectador, imaginar o ambiente
ao redor. A pintura de Volpi, ao contrário de Guignard e de Heitor dos
Prazeres, sugere melancolia e silêncio.
Portanto, apesar dos três pintores
serem contemporâneos, habitarem o mesmo país,
retratarem suas pinturas com o mesmo tema, mostrarem o mesmo contexto
social, cada um deles tem características específicas que os diferencia.:
Guignard e Heitor dos Prazeres tem pinturas alegres e Volpi tem uma pintura
melancólica.
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