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26 de abril de 2015

Pinturas de Festas Populares




As três pinturas a seguir foram feitas por três pintores brasileiros contemporâneos. Elas foram produzidas em lugares distintos e têm diferenças e semelhanças.


ALFREDO VOLPI  nasceu na Itália em 1896 e veio para o Brasil com apenas um ano. Faleceu em São Paulo em 1988. Volpi pertenceu à segunda Geração Modernista. Sua primeira pintura foi a fachada de um casario. Ocupa toda a tela. È uma pintura geométrica, na qual Volpi  utiliza poucas cores, mas fortes e contrastantes e bem definidas.

ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD é natural do Rio de Janeiro. Nasceu em 1896 e faleceu em Belo horizonte em minas gerais em 1962.  Sua pintura tem características expressionistas, usa a cor para gerar um estado de espírito no espectador.

HEITOR DOS PRAZERES viveu no Rio de Janeiro. Nasceu em 1898 e faleceu em 1966. Desde criança teve contato com as artes. Foi músico, compositor e pintor. Perder o pai na infância foi um fator marcante em sua vida. 

Alfredo Volpi

Nesta pintura de Volpi aparece apenas a fachada de um casario. A presença das bandeirinhas coloridas remete a uma festa junina. Em sua pintura não há pessoas. O fato de as portas e janelas estarem cerradas, supõe que as pessoas se recolheram, apagaram a luzes e adormeceram. Isto está visível na parte superior das portas. A cor preta sugere luz apagada. Há luz externa e escuridão interna. Isso pode evidenciar um sentimento de angústia do pintor e despertar o mesmo sentimento no espectador.

Alberto da Veiga Guignard

            Esta pintura de Guignard mostra uma pequena cidade no início do anoitecer. A noite, encontra resistência e não consegue impor suas trevas: A cidade está em festa, totalmente iluminada. Nas rua, as pessoas estão mergulhadas na luz. Esta luz está por toda a parte: ruas, praças, calçadas, escadarias e até no interior dos casarios. Complementando a claridade estão os balões no céu. Os telhados das casas ainda não foram cobertos pela noite. As montanhas ao redor, lembram o período do ouro abundante em Minas Gerais, Estado onde o pintor viveu. Não há preocupação em retratar as casas e as pessoas de forma real. O importante é o estado de espírito que se quer passar e o pintor conseguiu demonstrar um ambiente alegre.

Heitor dos Prazeres

            A pintura de Heitor dos Prazeres, feita em cores vibrantes, retrata uma cena, possivelmente urbana, parece se tratar de uma ponte. O fundo mostra um céu nublado e no centro um balão colorido. Não é possível ver mais nada, isso lembra um rio fundo, do contrário seria visível. É como se a ponte estivesse subido ao céu, de encontro ao balão.  Ela está protegida lateralmente e tem um espaço reservado ao pedestre. Sobre a ponte estão crianças brincando, elas têm características afro. A pintura de Heitor dos Prazeres também não tem preocupação com as formas reais. As crianças não são reais. As meninas vestem roupas com modelos idênticos, divergindo apenas nas cores. Vestir roupas de modelos únicos evidencia igualdade social. E é um costume que na África ainda perdura. O pintor também retratou um período de festas juninas, isto a presença do balão confirma. As crianças estão brincando. Além de pintor, Heitor era músico. A forma como as crianças estão dispostas é a mesma de uma brincadeira de cantiga de roda. É como se elas estivessem cantando a música “Cai cai balão”, disputando quem consegue pegá-lo, pois elas estão com os braços estendidos em sua direção. Heitor dos Prazeres retrata um ambiente festivo.

Comparando as três pinturas,  nota-se que existem semelhanças e diferenças:

            Guignard e Heitor dos Prazeres retratam um momento festivo próprio do Brasil: O período das Festas Juninas. Na pintura de ambos há denúncia social: a presença de pessoas simples, da classe pobre. Eles mostram um cotidiano feliz, sem deixar de apresentar o que aconteceu na História do Brasil: a escravidão, as minas de ouro de Minas Gerais, as festas juninas herdadas dos portugueses, a religião católica. Na cidade, todas as pessoas comemoram a festa, ninguém fica de fora. Quem não está na rua, comera dentro de casa. As duas pinturas evidenciam sentimentos de amizade, alegria, espontaneidade. Nelas há luzes, cores, contrastes e sugerem ao espectador a presença de outros elementos como burburinhos, musicalidade.

            Volpi também retratou o Brasil na fachada do casario, residência com características colonial, habitada por pessoas simples, do povo, enfeitada com bandeirolas coloridas, típicas das festas juninas. Em sua pintura as portas das casas estão cerradas, como se a festa tivesse acabado e as pessoas tivessem recolhidas em seus aposentos. Não há luzes dentro das casa. Sobre cada porta há janelinhas pretas, como se ali um vidro mostrasse  que todas as pessoas haviam apagado as luzes. Volpi delimitou a paisagem. O fundo é o próprio casario. A cena de Volpi é quase estática, a não ser pelas bandeirolas que na imaginação podem se movimentar. Fica a cargo do espectador, imaginar o ambiente ao redor. A pintura de Volpi, ao contrário de Guignard e de Heitor dos Prazeres, sugere melancolia e silêncio.

            Portanto, apesar dos três pintores serem contemporâneos, habitarem o mesmo país,  retratarem suas pinturas com o mesmo tema, mostrarem o mesmo contexto social, cada um deles tem características específicas que os diferencia.: Guignard e Heitor dos Prazeres tem pinturas alegres e Volpi tem uma pintura melancólica.



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