Há tempos deixei de abastecer este Blog, mesmo assim ele continua ativo, servindo de inspiração para muitos professores. Se você chegou até aqui, saiba que os conteúdos aqui postados são aulas que preparei para mim. Eu não quis guardar minhas experiências, pois sei que a maioria dos professores não têm muito tempo. Aproveite. Blog criado em 18/09/2006

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29 de junho de 2015

Encáustica


Segurando uma colher pelo cabo, esquente-a levemente na chama de uma vela ou lamparina. Escolha um bastão de giz de cera e derreta uma pequena porção na colher. Controle o calor, sem deixar que a cera ferva. Com um pincel, aplique a tinta num papel. Não é possível fazer mistura de cores no papel pois o giz colorido se torna sólido rapidamente, mas você pode derreter giz de cores diferentes na colher para criar novas cores . 

Veja alguns exemplos:







21 de junho de 2015

Xilografia e Cordel




A literatura de cordel nordestina é proveniente da Península Ibérica, onde imperou o trovadorismo. Até 1808, não se permitia a impressão de obras literárias no Brasil, mas isso não foi um problema, pois ela já existia na forma oral ou manuscrita. Essa literatura adquiriu características brasileira, principalmente nordestina. Escrita em versos de cinco, sete e dez sílabas, destaca-se por sua qualidade, sua sátira e sua crítica social. O poeta cordelista, antes de mais nada, precisa ser um observador sensível da vida pública, da política e necessita de uma imaginação inesgotável, pois seus versos influenciam outras gerações de poetas sucessores. Eles também exercem um grande fascínio popular. Além da irreverência da linguagem coloquial e dos temas que chamam a atenção do leitor, o cordel está junto do seu leitor. Ele é vendido em formato de livrinhos nas feiras livres e praças no nordeste.
Segundo Isaias Gomes da Silva, cordelista, o que caracteriza a literatura de cordel é o gênero literário e não o fato dos livrinhos serem expostos em cordas ou cordéis. Isaias afirma que antes do nome cordel esse tipo de literatura já existia. Esse nome era usado em Portugal no Século XVII. No Brasil, essa nomenclatura só se popularizou na década de 60. Foi um nome dado aos romances e folhetos que se vendiam na feiras livres do Nordeste sobre malas, mesas ou no chão, e não pendurados em barbantes ou cordas, conforme afirmam alguns historiadores. Os folhetos só passaram a ser pendurados em cordéis na década de 70 pelos vendedores, dentro dos estabelecimentos comerciais.
Uma curiosidade é que esse tipo de literatura popular também tem suas raízes fixadas em outros países: México, Chile, Nicarágua e Argentina. Até a gravura que ilustrava os textos mexicanos e chilenos apresentam características parecidas com a do cordel brasileiro.
O cordel brasileiro não ficou limitado ao Nordeste. No Estado do Pará ele também se desenvolveu. Cordelistas nordestinos, fugindo da seca e com o desejo de enriquecimento, em pleno auge da borracha, ali se estabelece. Junto com eles veio as tradições e valores culturais do Nordeste, mas ali no Pará os cordelistas usam pseudônimos, O razão é que o cordel está ligado à classe popular e os cordelistas exercem outras profissões e não querem se associar a pessoas de uma cultura mais simples.
O Brasil tem grandes cordelistas: O precursor foi Leandro Gomes de Barro, que chegou ser comparado a Olavo Bilac.
Isaias Gomes da Silva também afirma que a xilogravura não é o único meio de ilustração do cordel. Ela se tornou popular a partir dos anos 40, e que até 1920 o cordel era publicado com capa sem ilustração alguma. Aos poucos começaram a surgir cordéis com capas ilustradas com fotos de artistas do cinema, ou de seus autores, e até de alguns personagens do folheto.
Antes da popularização das xerocadoras, os cordéis eram impressos em papel jornal para baratear os custos. A partir das máquinas de xérox, das pequenas gráficas, das impressoras a jato de tinta, o papel ofício e A4 foram substituindo o papel jornal, mas o poeta cordelista vive da renda de seus folhetos, para ele não importa o papel.
A xilografia se popularizou a partir de 1940. Começou a ser usada para baratear os custos dos livretos, uma vez que o poeta não mais precisava se deslocar de sua cidade para fazer a capa. Ele mesmo poderia confeccioná-la. No início elas não eram muito bem feitas, mas com a prática do artista, elas foram sendo aperfeiçoadas. Surgiram então grandes artistas da xilogravura. Eles passaram a divulgar suas xilogravuras junto com os folhetos e a defender a xilogravura como única forma válida para ilustrar a literatura de cordel, porém nem todos os artistas acataram a idéia.
Portanto, a literatura de cordel e a xilogravura nasceram e trilharam caminhos diferentes, até se encontrarem. A xilogravura nunca foi muito aceita no meio popular, mas, por decisão da Academia ficou estabelecido que ela deve fazer parte da ilustração do cordel, apesar de não ser ela quem determina o que é ou deixa de ser cordel, mas o seu texto.


REFERÊNCIAS




CORDEL DA COPA 2014 NAS ONDAS DO HUMOR

Autor: Antonio Barreto- Santa Bárbara/BA

A respeito dessa Copa
Já foi tudo comentado
Não podemos contestar
O sucesso alcançado
Mas agora o que importa
É humor pra todo lado!
           
              2
A torcida foi chamada
Para dar sua opinião
A respeito do Brasil
Treinado por Felipão,
Então veja a voz do povo
Dessa sofrida Nação:
 ....................................


Xilogravura feita com isopor(tampa de marmitex) e tinta guache. 

Viola Spolin




            Viola Spolin nasceu em Chicago, Illinois, EUA, em 1906 e faleceu em Los Angeles, Califórnia, EUA. Foi uma importante professora de teatro no século XX por criar jogos teatrais para auxiliar a concentração e o treinamento de atores. Escreveu livros para teatro nos quais publicou técnicas de improvisação, hoje considerados como importantes fontes de informação. Viola é tida como a mãe do teatro de improviso. Seu trabalho influenciou a televisão, o teatro e o cinema americanos, fornecendo técnicas que ainda hoje são usadas por diretores, atores e escritores teatrais.
            Durante sua vida, Spolin percebeu a necessidade de um sistema de fácil treinamento teatral e desenvolveu jogos que desencadearam a criatividade e ajudaram a desbloquear a capacidade do indivíduo para a autoexpressão criativa. A sua técnica originou-se no período da Grande Depressão, quando estudou com Neva Boyd. Além de professora, escreveu diversos textos sobre improvisação. Seus escritos também são respeitados fora do círculo teatral por diretores, educadores e psicólogos, afetando principalmente o comportamento humano. O pai de Spolin era policial e fazia parte do esquadrão vermelho, dessa forma prendia imigrantes que suspeitava de atitudes antiamericanas. Spolin escolheu esses imigrantes para ajudar com seus jogos. Essas pessoas precisavam aprender a se comunicar na nova língua e absorver os costumes cultuais e étnicos do novo país.
            Em 1946, Viola Spolin criou a Companhia de Jovens atores de Hollywood, treinando crianças a partir do seis anos com jogos teatrais. Exerceu este trabalho até 1955, quando retornou para Chicago e até 1969 exerceu atividades variadas: dirigiu teatro, realizou oficinas de jogos, trabalhou com seu filho, Paul Sills, publicou “Improvisações para Teatro” e foi co-fundadora do teatro de Jogos. No teatro, buscou a participação do público, eliminou a separação convencional entre atores e audiência. Não obtendo o sucesso esperado, fechou o teatro após alguns meses. Entre 1970 e 1991 foi consultora do teatro Sills Story em Los Angeles, Nova York e na televisão. Também realizou workshops para empresas e atuou como atriz no filme de Paul Mazursky Alex em 1970. Em 1975 publicou o jogo “Theater” abordando o ensino aprendizagem exclusivo para professores que atuavam em sala de aula. Em 1976 criou o Spolin Game Theater Center em Holywood onde foi diretora artística e professora. Em 1979 recebeu um doutorado honorário da Universidade de Michigan. Em 1985 publicou o livro “Manual de um diretor.
            Os jogos teatrais escritos, ensinados e aplicados por Viola Spolin eram simples e descomplicados, construídos em cima de um foco ou problema técnico. Sua reprodução era natural e espontânea, com efeitos libertadores. Havia jogos para libertar a tensão do ator, para limpá-lo de preconceitos subjetivos, jogos de relacionamento, de concentração., que além de proporcionarem prazer, aumentavam a sensibilidade, a auto-consciência e a comunicação interpessoal.  Considerados uma técnica de auto-conhecimento e de comunicação não-verbal, esses jogos não eram do tipo que se ganha ou se perde. Suas regras permitiam aos participantes interagir igualmente uns com os outros. Eram democráticos, pois qualquer pessoa podia participar, fossem jovens ou velhas, de qualquer etnia. Neles usavam-se a linguagem, os gestos, a mímica, a imaginação, o contato físico. Eles tinham um efeito libertador para os jogadores.
            O currículo de Spolin tem uma lista extensa de palestras, demonstrações, workshops para estudantes, profissionais de teatro, ensino fundamental e médio, escolas para superdotados, com problemas de saúde mental , psicologia e centros de realbilitação de delinqüentes. A autora ensina que esses jogos teatrais podem ser aplicados em qualquer campo, disciplina ou assunto.
            Viola Spolin não fez carreira como atriz, mas passou a maior parte de seu tempo estudando como se fosse uma atriz. Não participou de nenhum grupo teatral, mas foi atraída pela visão em conjunto. Sem dúvida, Spolin transformou a teatro americano e universalizou a comunicação. Seu pensamento escrito foi usado no teatro e na escola. Sem saber, ela reinventou o teatro. Seu trabalho foi árduo. Não teve medo de inovar, de mudar, de recomeçar, de assumir cargos, de ensinar. Foi arrojada, sempre tinha novos projetos. Com seus jogos teatrais fez algo essencial para o desenvolvimento humano: ajudou as pessoas a  desenvolverem habilidades e a cooperarem umas com as outras, além de ensinar a se ouvirem mutuamente e a se imaginarem em circunstâncias semelhantes às outras.. Seu grande legado foi não guardar para si o conhecimento, mas ensinar, escrever e formar líderes, foi acreditar no potencial das pessoas, acreditar que elas fariam o melhor trabalho,  foi também estimular essas  pessoas. Foi formadora de talentos notáveis do mundo do teatro e do cinema, com sua genialidade se tornou conhecida internacionalmente.
            Em suma, Viola Spolin foi uma educadora teatral que sempre acreditou no ser humano e não mediu esforços para fazê-lo crescer como pessoa. Spolin foi útil.
           


Referências


15 de junho de 2015

A Xilogravura e o conhecimento escrito



No Século XIV, a xilogravura foi importante para a difusão do conhecimento escrito em todas as camadas da sociedade europeia. Ela fez do livro, uma ferramenta destinada a uma pequena elite letrada, em especial homens, membros do clero e da nobreza, uma fonte de conhecimento para todos. Isto trouxe consequências positivas e negativas à igreja católica, às mulheres e aos intelectuais da época (cientistas, filósofos, etc.).

A xilogravura colaborou com a evolução da humanidade. O conhecimento que antes era restrito aos religiosos e aos nobres, se estendeu a todas as classes sociais. A Igreja, que antes necessitava de muitos pregadores para propagar o Cristianismo, com a publicação da Bíblia Sagrada, ganhou mais um aliado a seu favor. A publicação de livros facilitou o estudo através das bibliotecas. Os historiadores, filósofos e cientistas, registraram os acontecimentos, publicaram suas filosofias, escreveram suas teorias. Depois de tudo isso, as que mais se beneficiaram com o conhecimento escrito foram as mulheres.  Elas que no século XIV eram apenas esposas e mães, e sem direito à cultura, proporcionavam uma vida muito cômoda para a família, cuidando da casa e educando os filhos. Com a popularização da educação, não perderam tempo: frequentaram os bancos escolares e, cultas, passaram a disputar com os homens o mercado de trabalho. Com isso, provaram que não eram inferiores e o desenrolar da História se encarregou de espalhar a notícia pelo mundo. Atualmente, ocupam importantes cargos de liderança nas empresas, são indispensáveis na política, trabalham em todos os setores da sociedade, adquiriram independência financeira, perderam o medo de lutar por seus direitos.

Em contrapartida, as conseqüências aí estão: dupla jornada: trabalham o dia todo nas empresas, fazem o trabalho doméstico, são mães e esposas. Têm falta de tempo para educar os filhos, para si mesma e para o lazer.


Mesmo com todas essas dificuldades, as mulheres continuam buscando mais conhecimento, estão nas universidades e certamente ainda têm muito mais para conquistar, como por exemplo a igualdade de salários com os homens e o fim da violência doméstica. É uma pena que em diversos países elas ainda vivam como se estivessem no século XIV. 

7 de junho de 2015

Descrição



Busque nas suas lembranças uma cena que você presenciou. Se achar difícil, reproduza uma foto. Desenhe-a e explique-a. Veja o exemplo abaixo


Numa viagem de férias, visitei alguns pontos turísticos da parte mais antiga da cidade de Florianópolis. Notei que Florianópolis, apesar de ser uma cidade antiga, tinha diversos prédios históricos restaurados e pintados com cores fortes e variadas, formando um contraste com prédios antigos não restaurados, de cores encardidas, e prédios modernos mais altos. Eu definiria essa cidade usando as cores cinza, vermelho, amarelo e azul.
A foto que tirei foi para registrar a presença dos pombos, integrados ao ambiente urbano, sobrevivendo dos restos da sociedade.
Na imagem original a água não existe, a mulher usa sandálias e o piso é de pedras. Extraindo esses elementos, é possível notar que existe uma profundidade na rua, onde estão duas pessoas encostadas numa parede de cor amarela. O fundo escuro da parede faz avançar as pernas das duas pessoas. Também há perspectiva, pois o pombo distante é menor que o pombo mais próximo. A mulher está situada antes da barraca de lanches.
Apesar do cinza do chão, do recipiente de lixo e dos pássaros passarem uma sensação de frio, a imagem sugere o verão. Isto é possível de ser constatado quando se olha para a saia da mulher. Ela ficou destacada dos demais elementos da imagem. O fundo amarelo da barraca, contrastou com o violeta da saia e esta ganhou volume. O violeta claro e escuro da saia deu a ilusão de movimento, formando avanço e recuo do tecido. As flores, coloridas com as três cores primárias, desenhadas sobre o violeta, que é uma cor secundária, contribuíram para que acontecesse harmonia.
Houve equilíbrio entre cores quentes e frias, lembrando o verão e o mar, característicos daquela cidade no mês de janeiro. 

1 de junho de 2015

Atividades com espelho-2



(Cada aluno deve trazer um espelho para a sala de aula)

ATIVIDADES:
1- Leitura do poema Mulher ao Espelho, de Cecília Meireles



Mulher ao espelho

Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seu
se morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meireles




Pablo Picasso: Mulher em frente ao espelho (1932), 
Nova Iorque, Museu de Arte Moderna


Ao observarmos a pintura de Pablo Picasso, vemos a imagem de duas mulheres: uma dentro de um espelho oval e outra fora. A mulher que está fora e tem sua imagem refletida no espelho não foi retratada igual, ela desvia seu olhar dele. Seu rosto está sereno. Foi pintada com cores claras.  A mulher refletida no espelho é sombria, foi pintada com cores mais fortes. Seu olhar é firme, mas expressa sofrimento. Ela está com a cabeça coberta e enrolada num manto azul, uma forma de ver a si mesma. Ambas se tocam, para mostrar que são a mesma pessoa.
Para construir a imagem, Picasso utilizou círculos de diferentes tamanho e outra formas, com linhas curvas e retas, características cubistas.
O artista nos faz ver que também somos como aquela mulher. Somos duas pessoas quando nos convém. Quando convivemos com outras pessoas procuramos  nos mostrar agradável, gentil, preocupamo-nos com nossa aparência, com o que as pessoas poderão pensar, no dia a dia, às vezes deixamos transparecer nosso lado sombrio, onde estão nossos sentimentos.
Comparando a pintura de Picasso com a poesia de Cecília Meireles podemos  constatar que os dois artistas, embora cada um na sua modalidade, descrevem a mulher à sua maneira. Mas existem similaridades. Picasso e Cecília mostram uma mulher descaracterizada, que se olha no espelho e enxerga o seu interior: isto é os seus sentimentos.
Em Picasso, a mulher que está fora do espelho representa a mulher vista pela sociedade, bonita, alegre, feliz. A que está diante do espelho é como ela se enxerga, não se olha, como se não tivesse coragem de enfrentar suas angustias, seus verdadeiros sentimentos. A que está fora se esconde por trás de uma máscara feliz e vive uma mentira, ao passo que a mulher refletida no espelho não usa disfarce, ela não desvia o olhar, pelo contrário, apesar de mostrar uma fisionomia abatida, consegue encarar a mulher que está fora com frieza e com firmeza, ali está a verdadeira mulher.
Em Cecília, a mulher também está dividida. Por fora ela usa disfarces para não mostrar sua insatisfação de nunca ter sido o que sempre desejou ser: muda a cor dos cabelos, muda de nome para esconder o desgosto, mas ela não acredita no disfarce, pois sabe que é só tinta, por baixo da tinta está a verdadeira mulher, a caveira. Essa mulher sofrida, apesar de ter sido santa como Maria e pecadora como Madalena, só vê uma solução: a morte. Para ela não importa a forma de morrer, pois sua fé lhe diz que ao morrer encontrará a paz ao falar com Deus.
Portanto, tanto Picasso quanto Cecília apresentam essa mulher de forma universal. Ela representa a raça humana que vive esses dois episódios: o bem e o mal, a alegria e a tristeza, a verdade e o erro, a vida e a morte.



2- Comentário sobre a tela Mulher em frente ao espelho, de Pablo Picasso
3- Leitura dos poemas: Versos de Natal, de Manuel Bandeira,  Retrato, de Cecília Meireles e Espelho de Mário Quintana


Versos de Natal
Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo  exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em por seus chinelinhos atrás da porta.
Manuel Bandeira - 1939
Em: Antologia Poética, Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, Sabiá: 1961, 5ª edição

Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo,
assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos, sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles



Espelho 
Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto… é cada vez menos estranho…
Meu Deus, meu Deus…
Parece Meu velho pai – que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar – duro – interroga:
“O que fizeste de mim?! Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga… Que importa! Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra!
– Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste

(Mário Quintana)




4- Produção de texto: O Aluno deve se olhar no espelho e escrever sobre si.

5- Quem quiser, poderá ler o texto para os colegas.

6- Olhar no espelho e se desenhar.

7- Exposição dos desenhos.



24 de maio de 2015

Colagem com papéis coloridos








17 de maio de 2015

Tendências Contemporâneas



ESCOLAS LITERÁRIAS
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
PERÍODO
1960
MARCO INICIAL
Movimento Concretista
PANORAMA DA ÉPOCA
  • Renúncia de Jânio Quadros
  • Ditadura Militar
  • Greves operárias
  • Movimento pelas eleições diretas
  • Morte de Tancredo Neves
  • Eleições diretas para presidente da República
GÊNEROS
Prosa (urbana, regionalista, intimista, realismo fantástico, prosa política
Poesia (concretismo, práxis, poema processo, poesia marginal)                         
CARACTERÍSTICAS
  • Permanência das conquistas estéticas do Modernismo
  • Exploração da camada visual do poema
  • Aprimoramento formal do conto
SÍNTESE
Ausência de padrões regulares
REPRESENTANTES
João Ubaldo Ribeiro
Mário Palmerio
Antônio Callado
Dalton Trevisan
Lygia Fagundes Telles
Rubem Fonseca
Ignácio de |Loyola Brandão
Marcio Souza
Murilo Rubião
Moacyr Scliar
Fernando Sabino
Ferreira Gullar
Augusto de Campus
Paulo Leminsky

10 de maio de 2015

Marcel Duchamp



 É o observador quem faz o quadro - Marcel Duchamp
O Dadaísmo surgiu numa época de caos, a Primeira Guerra Mundial, quando a humanidade já não encontrava sentido na arte, na ciência, na religião e na filosofia. Foi criado com a finalidade de mostrar esse descontentamento geral, denunciar injustiças e escandalizar. Para isso usou do absurdo. Seu principal representante foi Marcel Duchamp, para quem a obra de arte não precisava ser feita pelas mãos do artista, o que importava era o resultado final. Duchamp queria mostrar que tudo que possui uma forma é uma obra de arte. Numa exposição, levou um urinol. A respeito do objeto disse: se o sr. Mutt fez ou não a fonte com suas próprias mãos, não importa. Ele a escolheu... criou uma nova idéia para esse objeto.”

            Duchamp propôs um novo olhar para a arte, usando objetos comuns. Foi um convite para uma reflexão. Com isso ele valoriza a criação intelectual e física do objeto exposto, era o local que e a forma que era visto que o valorizava. Fora dali o objeto se tornava comum. Foi a forma que encontrou de romper com padrões. Sua arte desafiadora perturbou e escandalizou, pois Duchamp não tinha preocupação em agradar.
A libertação da Arte de seus clássicos padrões de beleza foi, sem dúvida, a maior contribuição para a humanidade do francês Marcel Duchamp. Sua irreverência influenciou e mudou o pensamento de sua geração e de gerações posteriores quando afirmou que é o observador quem faz o quadro. A partir de então, o que importa é a emoção despertada em cada um.
A arte sempre existiu. O homem pré-histórico mostrou isso nas pinturas rupestres. De lá para cá, o conceito de arte nunca foi instável, mudou em todos os tempos e em todas as culturas. Surgiram movimentos artísticos com características filosóficas e foram substituídos por outros, sempre se adequando ao momento histórico.
Duchamp foi um precursor. Pensou a arte fora dos padrões de sua época. Irreverente, revolucionário e transgressor, rompeu com esses padrões por não concordar com os critérios de avaliação e seleção de obras de arte. A exposição de um urinol chocou o público e gerou uma polêmica entre os críticos, mas com essa atitude ele expandiu os horizontes da arte. A partir de então, qualquer objeto fabricado industrialmente tornou-se uma obra de arte em potencial, bastava vê-lo como tal.
Depois dessa exposição, a arte desceu de seu pedestal e se popularizou. Assim, todas as pessoas, de qualquer idade, em qualquer lugar, passaram a ter contato com ela e adquiriram o poder de criticar, porque para essa nova visão o que importa é a emoção que a arte desperta. Sua finalidade é levar cada espectador a refletir individualmente, com total liberdade,  sobre o que vê. Agora, segundo o artista, “É o observador quem faz o quadro”, isto é, cada um tem plena liberdade de classificar o que é uma obra de arte, sem estar preso a antigos padrões, com os quais Duchamp não concordava.

Portanto, esse novo pensamento, que influenciou os movimentos artísticos posteriores, despertou no espectador, maior sensibilidade e respeito pela arte. Ele passou a enxergá-la ao seu redor e a interagir com ela em toda a parte.

3 de maio de 2015

127 Horas


O texto abaixo foi extraído do Capítulo Quinze, páginas 359, 360 e 361 do livro "127 Horas", de Aron Ralston, publicado pela Editora Seoman. Aron Ralston, alpinista experiente, em uma caminhada sozinho pelo deserto de Utah, nos Estados Unidos, num desfiladeiro estreito sofreu um grave acidente, quando deslocou uma rocha de quase meia tonelada e teve sua mão direita presa. Tentou se soltar de inúmeras formas, usando seus equipamentos de alpinista. Com pouca água e comida, consumiu aos poucos seus suprimentos até acabarem, passando a beber sua urina. Após vários dias, quando se viu sem chance alguma de sobreviver, pois não disse a ninguém para onde ia, num ato de desespero e coragem, quebrou seu braço e com canivete o amputou. Livre, continuou sua batalha para sobreviver.
O texto em primeira pessoa é narrativo descritivo, com riqueza de detalhes que emocionam e nos transportam ao local onde o alpinista encontrou água e bebeu, até podemos nos colocar no lugar da personagem, sentir sua coragem, sua alegria, sua dor e, principalmente sua sede.




..........................................................................................................................
O ar escaldante seca  os meus poros e eu sou torturado por três minutos enquanto faço uma série prolongada de ajustes e manobras infinitesimais para manter o meu corpo embaixo da plataforma. Finalmente, solto um pouco mais a corda através do ATC, os meus pés descendo soltos pela borda inferior da plataforma e estou pendurado livre da parede na minha corda, a cerca de 18 metros do chão. Um momento de deleite vertiginoso substitui a minha ansiedade enquanto giro sobre mim mesmo para ficar de frente para o anfiteatro, flutuando à vontade no ar. Deslizando a corda para baixo, indo mais rápido à medida que me aproximo do solo, observo o eco das minhas cordas cantando enquanto elas deslizam pelo ATC.

Tocando o chão, puxo o chicote de seis metros de comprimento das minhas cordas através do aparelho de rapel e imediatamento arremeto para a poça aureolada de lama. Saio do sol para a sombra fria, soltando bruscamente a mochila do lado esquerdo e depois mais delicadamente por cima do braço direito, e de novo retiro a Nalgene. Quando abro a tampa desta vez, arremesso o conteúdo na areia pelo lado lado esquerdo e encho-a na poça, afastando folhas e insetos mortos ao longo da água aromática. Estou tão ressecado que saboreio a umidade elevada ao redor da piscina e isso aguça minha sede. Chocalho o líquido para enxaguar a garrafa e depois esvazio de novo o conteúdo para o lado.

Passando a garrafa pela piscina duas vezes, encho-a de novo com a água marrom. No tempo que demora para levar o bocal da Nalgene aos meus lábios, discuto se devo beber devagar ou engolir de uma vez, e decido provar e depois engolir de uma vez. As primeiras gotas encontram a minha língua e, em algum lugar no céu, um coro principia a cantar. A água está fria e, melhor de tudo, é adocicada, como um vinho do porto de alta qualidade depois do jantar. Bebo o litro inteiro em quatro goles encadeados, afogando-me no prazer, e depois estendo a mão para tornar a encher a garrafa. (Tem tanto para beber.) O segundo litro segue do mesmo modo e torno a encher a garrafa uma vez mais. Imagino se a água teria esse gosto maravilhosamente adocicado para uma pessoa normalmente hidratada. Se  a água realmente é assim tão deliciosa, o que a deixa dessa maneira? Será que as folhas mortas fermentam o líquido em algum tipo de chá do deserto?

Sento-me na borda da poça e, por um momento, estou feliz comigo mesmo, como se minha sede fosse tudo o que realmente importasse, e agora que cuidei dela, estou totalmente a vontade. Tudo desaparece. Até mesmo de notar a dor do meu braço. Eu fantasio que estou num piquenique, sentado à sombra depois de um lanche prolongado, sem nada a fazer a não ser observar as nuvens passarem.

Mas sei que o alívio terá vida curta. Relaxo como estou, tenho 13 quilômetros de caminhada pela frente para chegar até minha caminhonete e preciso me preparar para isso. Observo vários conjuntos de pegadas de cascos de cavalo na areia à minha direita. Alguém ou um grupo de pessoas, andou cavalgando por essa parte do cânion desde a última tempestade. O meu coração salta ao pensar que poderia cruzar com um grupo de caubóis em algum ponto da minha caminhada, mas não me deixo enganar a ponto de alegrar ou manter muitas esperanças. As pegadas ressecadas em forma de maçã, pontuando o caminho pelo leito seco por uns 50 metros cânion abaixo, dizem-me que faz mais de um dia que aqueles cavalos passaram por aqui.

Bebo o terceiro litro de maneira mais conservadora .......................................................................................................................... seguro a câmera na mão esquerda para um autorretrato com a poça de água ao fundo. 
.......................................................................................................................... encho o recipiente com dois litros de água adocicada.



ATC: Air Traffic Controller, marca comercial de um aparelho de freio/descensor de rapel. 
NALGENE: marca comercial de uma empresa que fabrica garrafas de água para esportes radicais e de aventura. 


Sugestões de atividades:

1- Leitura do texto.
2- Comentário
3- Levar os alunos a um local para beberem água.
4- Encenação
5- Desenhos.
6- Exposição dos desenhos
6- Pesquisa sobre a água potável no Planeta Terra.



26 de abril de 2015

Pinturas de Festas Populares




As três pinturas a seguir foram feitas por três pintores brasileiros contemporâneos. Elas foram produzidas em lugares distintos e têm diferenças e semelhanças.


ALFREDO VOLPI  nasceu na Itália em 1896 e veio para o Brasil com apenas um ano. Faleceu em São Paulo em 1988. Volpi pertenceu à segunda Geração Modernista. Sua primeira pintura foi a fachada de um casario. Ocupa toda a tela. È uma pintura geométrica, na qual Volpi  utiliza poucas cores, mas fortes e contrastantes e bem definidas.

ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD é natural do Rio de Janeiro. Nasceu em 1896 e faleceu em Belo horizonte em minas gerais em 1962.  Sua pintura tem características expressionistas, usa a cor para gerar um estado de espírito no espectador.

HEITOR DOS PRAZERES viveu no Rio de Janeiro. Nasceu em 1898 e faleceu em 1966. Desde criança teve contato com as artes. Foi músico, compositor e pintor. Perder o pai na infância foi um fator marcante em sua vida. 

Alfredo Volpi

Nesta pintura de Volpi aparece apenas a fachada de um casario. A presença das bandeirinhas coloridas remete a uma festa junina. Em sua pintura não há pessoas. O fato de as portas e janelas estarem cerradas, supõe que as pessoas se recolheram, apagaram a luzes e adormeceram. Isto está visível na parte superior das portas. A cor preta sugere luz apagada. Há luz externa e escuridão interna. Isso pode evidenciar um sentimento de angústia do pintor e despertar o mesmo sentimento no espectador.

Alberto da Veiga Guignard

            Esta pintura de Guignard mostra uma pequena cidade no início do anoitecer. A noite, encontra resistência e não consegue impor suas trevas: A cidade está em festa, totalmente iluminada. Nas rua, as pessoas estão mergulhadas na luz. Esta luz está por toda a parte: ruas, praças, calçadas, escadarias e até no interior dos casarios. Complementando a claridade estão os balões no céu. Os telhados das casas ainda não foram cobertos pela noite. As montanhas ao redor, lembram o período do ouro abundante em Minas Gerais, Estado onde o pintor viveu. Não há preocupação em retratar as casas e as pessoas de forma real. O importante é o estado de espírito que se quer passar e o pintor conseguiu demonstrar um ambiente alegre.

Heitor dos Prazeres

            A pintura de Heitor dos Prazeres, feita em cores vibrantes, retrata uma cena, possivelmente urbana, parece se tratar de uma ponte. O fundo mostra um céu nublado e no centro um balão colorido. Não é possível ver mais nada, isso lembra um rio fundo, do contrário seria visível. É como se a ponte estivesse subido ao céu, de encontro ao balão.  Ela está protegida lateralmente e tem um espaço reservado ao pedestre. Sobre a ponte estão crianças brincando, elas têm características afro. A pintura de Heitor dos Prazeres também não tem preocupação com as formas reais. As crianças não são reais. As meninas vestem roupas com modelos idênticos, divergindo apenas nas cores. Vestir roupas de modelos únicos evidencia igualdade social. E é um costume que na África ainda perdura. O pintor também retratou um período de festas juninas, isto a presença do balão confirma. As crianças estão brincando. Além de pintor, Heitor era músico. A forma como as crianças estão dispostas é a mesma de uma brincadeira de cantiga de roda. É como se elas estivessem cantando a música “Cai cai balão”, disputando quem consegue pegá-lo, pois elas estão com os braços estendidos em sua direção. Heitor dos Prazeres retrata um ambiente festivo.

Comparando as três pinturas,  nota-se que existem semelhanças e diferenças:

            Guignard e Heitor dos Prazeres retratam um momento festivo próprio do Brasil: O período das Festas Juninas. Na pintura de ambos há denúncia social: a presença de pessoas simples, da classe pobre. Eles mostram um cotidiano feliz, sem deixar de apresentar o que aconteceu na História do Brasil: a escravidão, as minas de ouro de Minas Gerais, as festas juninas herdadas dos portugueses, a religião católica. Na cidade, todas as pessoas comemoram a festa, ninguém fica de fora. Quem não está na rua, comera dentro de casa. As duas pinturas evidenciam sentimentos de amizade, alegria, espontaneidade. Nelas há luzes, cores, contrastes e sugerem ao espectador a presença de outros elementos como burburinhos, musicalidade.

            Volpi também retratou o Brasil na fachada do casario, residência com características colonial, habitada por pessoas simples, do povo, enfeitada com bandeirolas coloridas, típicas das festas juninas. Em sua pintura as portas das casas estão cerradas, como se a festa tivesse acabado e as pessoas tivessem recolhidas em seus aposentos. Não há luzes dentro das casa. Sobre cada porta há janelinhas pretas, como se ali um vidro mostrasse  que todas as pessoas haviam apagado as luzes. Volpi delimitou a paisagem. O fundo é o próprio casario. A cena de Volpi é quase estática, a não ser pelas bandeirolas que na imaginação podem se movimentar. Fica a cargo do espectador, imaginar o ambiente ao redor. A pintura de Volpi, ao contrário de Guignard e de Heitor dos Prazeres, sugere melancolia e silêncio.

            Portanto, apesar dos três pintores serem contemporâneos, habitarem o mesmo país,  retratarem suas pinturas com o mesmo tema, mostrarem o mesmo contexto social, cada um deles tem características específicas que os diferencia.: Guignard e Heitor dos Prazeres tem pinturas alegres e Volpi tem uma pintura melancólica.



21 de abril de 2015

Análise e comparação de obras de arte




            Antes de se iniciar a análise de uma obra de arte, é extremamente importante sua identificação, pois são esses elementos identificados que irão contribuem com detalhes enriquecedores e facilitar a sua compreensão.
            Numa breve leitura e análise comparativa de duas pinturas produzidas no século XX, uma, produzida entre 1900 e 1950 e a outra de 1951 a 2001 vamos ver a principal diferença entre as duas obras.   



            Esta obra, com o título de Marguerite, foi realizada pelo pintor francês Willian Adolph Bouguereau, que tinha preferência por temas mitológicos, crianças e mães. Foi executada em óleo sobre lona e concluída no ano de 1903. Mede 117,5 X 73,7 cm. e pertence a um colecionador particular. Seu fundo superior, situado num plano mais elevado e distante, é composto por luzes e sombras, dando a impressão de árvores.  Um pouco mais próximo do espectador, na parte interna de uma construção, esta uma escada aparentemente de pedras. Sobre os degraus estão espalhadas algumas pequenas flores colhidas. Do lado esquerdo do observador entra a luz tanto do ambiente interno quanto do externo. Mais próximo ainda do espectador, no centro da tela, sentada num dos degraus está uma criança. É uma menina vestindo blusa branca e saia azul escuro. Seu contorno é bem nítido, sua pela é clara, seus cabelos longos estão amarrados no alto da cabeça com um laço azul escuro também. Pela simplicidade no vestir e por estar descalça, parece ser de classe social menos abastada. Ela tem a fisionomia serena, aparentado estar em paz. A criança, de pernas cruzadas e pés descalços, segura duas pequeninas flores na mão esquerda, como se as estivesse mostrando. Com o braço direito ela cobre o rosto, fazendo sombra sobre os olhos. A impressão que se tem é que ela observa seu espectador, fazendo com ele uma troca de olhar.



La Carta é uma pintura feita por Fernando Botero, pintor colombiano, cuja característica marcante é a pintura de figuras com proporções maiores e características de gordas. Concluída no ano de 1976, La carta encontra-se no Museu Botero, em Bogotá, Colômbia. Mede 149 X 194 cm.  e foi pintada em óleo sobre tela. Ao fundo, no centro, vê-se uma parede azul clara. Trata-se de um quarto pequeno, suas duas paredes laterais são visíveis. Na parte superior desta parede, está o fundo de uma tela pendurada, mas não se vê figura alguma, deixando um enigma para o observador. Apesar da parede clara, nota-se que a luz vem do canto superior esquerdo do observador, supostamente uma janela aberta. No centro do quarto fica a cama de madeira, com a cabeceira revestida de tecido, formando um encosto macio. Os lençóis e o travesseiro harmonizam com o tecido que recobre a cabeceira. Sobre uma parte da cama, em colorido contrastante, está estendida uma coberta vermelha com bordas de cor amarelo ouro. Do lado oposto, estendido também, um outro tecido, de cor verde, aparentando ser uma peça de roupa. Sobre esses elementos, no centro do quadro, destaca-se a imagem desproporcional de uma mulher gorda, nua. Ela encontra-se deitada e com uma das mãos apoiada no rosto, segura a cabeça, com a outra, segura um papel, a carta. A luz que penetra no ambiente ilumina todo o seu corpo. Sua pele é clara e seus longos cabelos ondulados são ruivos, combinando com seu tom de pele. Os olhos, contrastando com o rosto, são pequenos e estão olhando o vazio, como se ela não estivesse enxergando nada concreto, apenas as imagens que passam em seu pensamento. Apesar de seu tamanho ser de uma pessoa gorda e grande, sua boca e seus seios são pequenos, o que deixa a impressão de uma mulher solitária, sem uma vida sexual ativa. Os pelos pubianos à mostra são poucos e discretos, pois são cobertos por sua perna direita que se dobra sobre a outra perna. À sua frente estão a metade de uma laranja madura e alguns pedaços espalhados. Nenhum deles foi degustado pela mulher.
Comparando-se as duas pinturas, observa-se que:
A pintura de Bouguereau traduz a realidade, a perfeição das formas, tanto do cenário quanto da figura da criança, como se fosse uma fotografia. Suas cores são harmônicas, os gestos são delicados, a natureza se faz presente e o ambiente é de serenidade. A criança interage com espectador, mostrando as flores e trocando olhar, portanto ela não está só.
Em Botero, a imagem da mulher encontra-se sozinha, isolada num quarto, não há cumplicidade com o espectador. Observa-se melancolia, solidão. Tanto o ambiente quanto a imagem não são reais. Em Botero o espaço é apertado, pois foi inundado pela figura da mulher.
Portanto a principal diferença está nas características de cada pintor. Cada um tem seu tempo, seu estilo, suas características, e suas pinturas retratam isso.


12 de abril de 2015

Etapas da descrição de uma obra de arte





            São quatro as etapas da descrição de uma obra de arte:
          A primeira delas é buscar os dados referenciais a respeito do artista: seu nome, obras que o artista já realizou; a data, que permite contextualizar suas obras na História da Arte. Outro dado referencial é o tamanho, pois quanto maior, maior será o envolvimento da obra com o expectador; e a localização da obra, para posterior confronto e esclarecimento de dúvidas.
            Uma segunda etapa é a descrição do material, pois cada técnica tem sua forma de construção, isto é, meios para obter efeitos e recursos de composição: planos sobrepostos, variações de tamanho, posição das figuras, perspectiva linear e aérea, mudança de cor. Essa etapa não é tão difícil quando são obras com objetos bem definidos, em contrapartida, quando se trata de arte contemporânea faz-se necessário uma pesquisa sobre a biografia do artista e a classificação de sua obra. Esses elementos podem ser confrontados com o contexto histórico.
            A terceira etapa é a da interpretação. Neste momento é preciso considerar seu contexto de produção. Quanto ao estilo, deve-se identificar se os elementos conhecidos são notados em outra pintura do mesmo estilo. É importante reforçar que cada obra tem o seu estilo e pede uma identificação diferente.
            A síntese é a última etapa. É quando se chega a uma conclusão, quando se contestam hipóteses ou se comparam elementos.