O texto abaixo foi extraído do Capítulo Quinze, páginas 359, 360 e 361 do livro "127 Horas", de Aron Ralston, publicado pela Editora Seoman. Aron Ralston, alpinista experiente, em uma caminhada sozinho pelo deserto de Utah, nos Estados Unidos, num desfiladeiro estreito sofreu um grave acidente, quando deslocou uma rocha de quase meia tonelada e teve sua mão direita presa. Tentou se soltar de inúmeras formas, usando seus equipamentos de alpinista. Com pouca água e comida, consumiu aos poucos seus suprimentos até acabarem, passando a beber sua urina. Após vários dias, quando se viu sem chance alguma de sobreviver, pois não disse a ninguém para onde ia, num ato de desespero e coragem, quebrou seu braço e com canivete o amputou. Livre, continuou sua batalha para sobreviver.
O texto em primeira pessoa é narrativo descritivo, com riqueza de detalhes que emocionam e nos transportam ao local onde o alpinista encontrou água e bebeu, até podemos nos colocar no lugar da personagem, sentir sua coragem, sua alegria, sua dor e, principalmente sua sede.
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O ar escaldante seca os meus poros e eu sou torturado por três minutos enquanto faço uma série prolongada de ajustes e manobras infinitesimais para manter o meu corpo embaixo da plataforma. Finalmente, solto um pouco mais a corda através do ATC, os meus pés descendo soltos pela borda inferior da plataforma e estou pendurado livre da parede na minha corda, a cerca de 18 metros do chão. Um momento de deleite vertiginoso substitui a minha ansiedade enquanto giro sobre mim mesmo para ficar de frente para o anfiteatro, flutuando à vontade no ar. Deslizando a corda para baixo, indo mais rápido à medida que me aproximo do solo, observo o eco das minhas cordas cantando enquanto elas deslizam pelo ATC.
Tocando o chão, puxo o chicote de seis metros de comprimento das minhas cordas através do aparelho de rapel e imediatamento arremeto para a poça aureolada de lama. Saio do sol para a sombra fria, soltando bruscamente a mochila do lado esquerdo e depois mais delicadamente por cima do braço direito, e de novo retiro a Nalgene. Quando abro a tampa desta vez, arremesso o conteúdo na areia pelo lado lado esquerdo e encho-a na poça, afastando folhas e insetos mortos ao longo da água aromática. Estou tão ressecado que saboreio a umidade elevada ao redor da piscina e isso aguça minha sede. Chocalho o líquido para enxaguar a garrafa e depois esvazio de novo o conteúdo para o lado.
Passando a garrafa pela piscina duas vezes, encho-a de novo com a água marrom. No tempo que demora para levar o bocal da Nalgene aos meus lábios, discuto se devo beber devagar ou engolir de uma vez, e decido provar e depois engolir de uma vez. As primeiras gotas encontram a minha língua e, em algum lugar no céu, um coro principia a cantar. A água está fria e, melhor de tudo, é adocicada, como um vinho do porto de alta qualidade depois do jantar. Bebo o litro inteiro em quatro goles encadeados, afogando-me no prazer, e depois estendo a mão para tornar a encher a garrafa. (Tem tanto para beber.) O segundo litro segue do mesmo modo e torno a encher a garrafa uma vez mais. Imagino se a água teria esse gosto maravilhosamente adocicado para uma pessoa normalmente hidratada. Se a água realmente é assim tão deliciosa, o que a deixa dessa maneira? Será que as folhas mortas fermentam o líquido em algum tipo de chá do deserto?
Sento-me na borda da poça e, por um momento, estou feliz comigo mesmo, como se minha sede fosse tudo o que realmente importasse, e agora que cuidei dela, estou totalmente a vontade. Tudo desaparece. Até mesmo de notar a dor do meu braço. Eu fantasio que estou num piquenique, sentado à sombra depois de um lanche prolongado, sem nada a fazer a não ser observar as nuvens passarem.
Mas sei que o alívio terá vida curta. Relaxo como estou, tenho 13 quilômetros de caminhada pela frente para chegar até minha caminhonete e preciso me preparar para isso. Observo vários conjuntos de pegadas de cascos de cavalo na areia à minha direita. Alguém ou um grupo de pessoas, andou cavalgando por essa parte do cânion desde a última tempestade. O meu coração salta ao pensar que poderia cruzar com um grupo de caubóis em algum ponto da minha caminhada, mas não me deixo enganar a ponto de alegrar ou manter muitas esperanças. As pegadas ressecadas em forma de maçã, pontuando o caminho pelo leito seco por uns 50 metros cânion abaixo, dizem-me que faz mais de um dia que aqueles cavalos passaram por aqui.
Bebo o terceiro litro de maneira mais conservadora .......................................................................................................................... seguro a câmera na mão esquerda para um autorretrato com a poça de água ao fundo.
.......................................................................................................................... encho o recipiente com dois litros de água adocicada.
ATC: Air Traffic Controller, marca comercial de um aparelho de freio/descensor de rapel.
NALGENE: marca comercial de uma empresa que fabrica garrafas de água para esportes radicais e de aventura.
Sugestões de atividades:
1- Leitura do texto.
2- Comentário
3- Levar os alunos a um local para beberem água.
4- Encenação
5- Desenhos.
6- Exposição dos desenhos
6- Pesquisa sobre a água potável no Planeta Terra.